Desde a publicação do Decreto nº 5.626 em 2005 regulamentando a chamada “Lei de Libras” de 2002 que reconheceu a mesma como “meio legal de comunicação e expressão (…) das comunidades de pessoas surdas do Brasil”, essa língua passou a ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia. Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.
A Libras tornou-se, também, disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação do Decreto.
Hoje, qualquer estudante universitário pode ter acesso a essa língua, que tem sua história ligada à história das línguas orais. Alguns linguistas, inclusive, acreditam que inicialmente os humanos se comunicavam através de gestos, que evoluíram para línguas de sinais gramaticalmente complexas. Só depois é que as línguas orais apareceriam.
Pessoas com surdez fazem parte da humanidade desde sempre, e, para além da comunicação pura e simples, necessitam de uma língua para formar sua identidade. Durante muito tempo, a educação das pessoas com surdez, ou surdos, como podemos dizer, foi tema de divergências.
Temos notícias mais efetivas da existência da invenção de um alfabeto manual (datilologia), que tentava ligar os gestos (como eram consideradas as línguas de sinais na época) produzidos pelos surdos à língua escrita a partir do século XVI, com o espanhol Pedro Ponce de Léon (1520-1584), monge da ordem dos Beneditinos, publicado por Juan Martin Pablo Bonet em 1620 em um livro intitulado Reduccion de las letras y arte para ensenãr a ablar los mudos.
O trabalho de Ponce de Léon relata o sucesso de uma metodologia que incluía datilologia, escrita e fala e levou seus três alunos surdos a falar grego, latim e italiano, além de chegar a um alto nível de compreensão em física e astronomia.
Embora em alguns períodos as línguas de sinais das comunidades surdas existentes no mundo (que são diferentes, mas todas linguisticamente completas) tenham sido banidas da educação de surdos e desconhecidas pelas sociedades, nunca deixaram de existir. Com a chegada da tecnologia da imagem em movimento, o registro dessas línguas passou a ter um papel de divulgação e compreensão da complexidade e até mesmo da beleza e poesia dos sinais.
A Editora Arara Azul vem atuando desde 1993 na produção de materiais escritos e bilíngues em Libras e Português, no sentido de registrar e incentivar estudos e pesquisas produzidas por surdos e para os surdos.
No sentido de fortalecer discussões entre aqueles que, como nós, lutam por uma sociedade mais humana e mais justa para todos, independentemente de serem pessoas surdas ou pessoas ouvintes, estabelecemos ligações com instituições comprometidas com esse objetivo.
Assim, a parceria com a Biblioteca Digital eLivro tem um papel importante nesse caminho de luta. Atualmente com os livros Coleção Estudos Surdos I, II, III e IV, A história da língua de sinais do surdos brasileiros, Olhar surdo e Surdos e inclusão educacional,(colocar links?) proporcionamos oportunidade para aqueles que desejam ampliar conhecimentos sobre variados temas relativos ao universo das pessoas surdas.
Como uma ação paralela , a Editora Arara Azul oferece Cursos de Libras, cursos de formação de Intérpretes de Libras e também um curso (gratuito) de Sensibilização da Comunidade Escolar para a Utilização da Libras. Para os estudantes cursando Libras como disciplina obrigatória ou não, ou para os interessados em Língua, Cultura, Identidade e outros temas, é indispensável! Todo profissional deverá encontrar em algum momento do seu trabalho com uma pessoa surda. E poder estabelecer um diálogo com esses cidadãos é obrigação ética!
Clélia Regina Ramos
Gerente Editorial e de Projetos Arara Azul